segunda-feira, 15 de abril de 2013

Gritos silenciosos

Coloquei delicadamente minhas mãos entre as dele e disse-lhe que não poderíamos mais nos ver.
-Mas porque?
-Você bem sabe que estamos só nos enganando. -eu ensaiara aquele discurso um milhão de vezes, pensando em cada palavra, mas no momento final acabei decidindo por algo mais leve e reflexivo, como Sócrates teria feito.
Ele continuou a me fitar, perpexo. Meus olhos estavam muito mais revoltados do que costume. Como eu não podia simplesmente jogar fora tudo que pensara em falar, eles simplesmente faziam o trabalho de gritar minha raiva da forma mais silenciosa possível.

Estava farta daquela ladainha de imaginar que estávamos em uma comédia romântica. Nunca seríamos um casalzinho perfeito e ter o senso comum e a consciência disso deixava-me muito mais irritada. Odiava como ele se exibia para os amigos e tantas outras atitudes infantis. Apaixonava-se fácil e mais rápido ainda desviava sua atenção para outra coisa.

Uma parte dele era maduro o bastante para compreender minha atitude. Ele apenas queria que eu preenchesse um espaço na sua vida, mas ao mesmo tempo não estava disposto a deixar o vazio.
Sus carências e apelos agora já me tiravam do sério. Queria dizer-lhe: Ora, vamos, não fiquei aí se lamentando...levante-se e faça alguma coisa!

E ele sempre voltava para os meus braços (e ouvidos) quando se encontrava sozinho e sem rumo. Pois bem, cansei de carregar este fardo. Eu não precisava disso. Já tinha aprendido o bastante no passado para não cometer os mesmos erros.E não cometi. Nunca deixei que ele dominasse meu coração e meu ser. Não era algo beirando a indiferença, mas barreiras cuidadosamente feitas para que eu não caísse em armadilhas.

Obviamente eu sofreria nos primeiros dias, mas não algo que não desse para sobreviver. Meu intuito não era machucá-lo, embora soubesse que estava fazendo isso, mas se não o fizesse eu acabaria chegando aos berros mais altos que meus pulmões pudessem dar. Gostaria que pudéssemos ser amigos, contudo, não sabia se este era o seu desejo. Muito mais provável que ele quisesse me matar primeiro.

Suspirei. Contar vantagens, dar mais valor a beleza que personalidade, atirar para todos os lados...De que adiantaria, afinal?
-Está bem.-ele piscous em sinal afirmativo.
O recado fora entregue com êxito graças aos gritos silenciosos de meus olhos ou a leveza de minha palavras?

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