sábado, 19 de julho de 2014

E de repente eu me desviro do avesso e descubro uma nova -ao mesmo tempo velha- identidade minha.

Talvez a melhor palavra para descrever a reação seja surpresa. Não pensei que um dia o olhar perderia a força e a voz voltaria para o âmago da garganta. Não pensei que sentiria-me envergonhada de tudo e olharia para o chão, à procura de forças e equilíbrio. Eu nunca pensei que teria de aceitar a tempestade da forma mais passível e desprovida.

Não me perguntes a razão...são tantas. São acontecimentos diários e emaranhados de diversos sentimentos.  Angústia e medo misturados como aqueles pesadelos que a gente acaba tendo e de repente acorda sem ar. Ou eu simplesmente tenho que aprender algumas lições, nunca se sabe.

Não quero estender nas explicações, elas não resolvem muita coisa. 

Nada nesse momento resolve muita coisa.


terça-feira, 15 de julho de 2014

As cortinas estão abertas
Flores e sol lá fora
E as memórias se misturam
Como mágoa e raiva dentro de mim

E cá estou eu
Eu, tentando entender a razão
Dos seus silêncios
Das suas ausências

Eu dou-lhe meus olhos,
Toda minha juventude e inocência
Para ver seu sorriso mais uma vez

Me mande um sinal
Para que eu possa correr, correr em sua direção
E tornar essa tristeza em esquecimento.


quarta-feira, 9 de julho de 2014

Parte I

Não sei por que estou fazendo isso. Na verdade, eu não estou pensando de forma racional há dias, desde quando o chamei para essa loucura. E isso pode dar muita merda.

O processo de reconhecimento fora muito engraçado. Você não é mais a mesma, ele disse. Tem um sorriso atrevido e esses malditos olhos sedutores, que não sei recusar sua oferta. Quem sabe eu não descubro o motivo dessa mudança.

Eu ri. Eu sempre rio quando tenho muito a dizer, mas prefiro guardar as palavras. Ele que descubra, então. Te vejo depois de amanhã, ás nove. Abri a porta do carro e coloquei  os óculos escuros. Dei uma olhada para ele, e abaixei o vidro. Sorri mostrando todos os dentes e sai cantando pneu.

Quando fui busca-lo e o porta malas foi aberto para colocar a bagagem, eu olhei para o violão e disse brincando que ele havia se lembrando de trazer alguma diversão. Eu nunca me esqueço de nada nunca, ele respondeu e sorriu com o olhar mais cruel que eu já vira nele desde então. Algo me diz que essa crueldade vai aparecer mais do que eu imaginava, veremos.

Quando saímos na rodovia eu já senti o ar mudar. Ele se sentou do meu lado, com o vidro aberto e o braço para fora. Conversamos sobre uma infinidade de coisas, trabalho, faculdade,  o quanto a vida dá suas voltas. Evitamos assuntos relacionados aos velhos tempos e às nossas famílias, e eu acho que pelos mesmos motivos. È simplesmente complicado falar isso de forma despreocupada. Aqui é vida real, sem fingimentos, sem ninguém por perto para julgar ou maldizer. O blefe é permitido, mas apenas para tornar isso tudo mais interessante.

Eu não sabia que você gostava de pegar estrada, ele comentou. Eu sorri, admirando tudo a minha frente. Eu sempre preciso fazer isso de vez em quando para não pirar. Eu gosto da liberdade que a estrada me propõe, eu gosto de ir cheia de duvidas e voltar com certezas, e segurei mais forte no volante, animada.

Dúvidas e certezas do que, por exemplo?

Tudo. O próximo mês ou o próximo ano. Quem eu sou e quem eu quero ser. Minhas mudanças, meus defeitos, conhecer novos lugares e pessoas novas. Sentir o cheiro da terra sob meus tênis e provar um gosto diferente da vida. Crescer um pouco mais e tornar-me melhor.

Para mim você cresceu e ficou muito, muito melhor. E olhou de soslaio para mim.

Eu ri. Apreciei o som da risada, totalmente debochada. Eu sou irônica até quando não posso ser. Na verdade estou me divertindo mais do que o esperado com o choque dele, quase não consigo me conter. 

Olhe para a sua garotinha, eu tenho vontade de dizer. Ela é suficiente boa para você agora?  E só o breve pensamento de torturar o ego desse homem me traz um belo vislumbre de satisfação, que eu mal posso esperar para essa aventura realmente começar.

Paramos em um posto de gasolina para esticar as pernas, e eu mal consigo sentir as minhas. Alongo os músculos, sentindo o vento do final de tarde soprar e arrepiar minha pele. Acho que vai esfriar hoje à noite.

Entramos no carro, agora ele como motorista, e vamos ouvir musica para animar a noite. Pego minha coleção de CDs.

As mais animadas, por favor. Meu gosto musical não mudou e pelo que eu vi, se tornou muito parecido com o seu.


Enquanto escolho um álbum, eu percebo seus olhos me analisarem como costumavam fazer. Mas agora estão mais descarados, e eu sorrio por dentro quando constato isso.