domingo, 24 de fevereiro de 2013

Ausência-Vinícius de Moraes

"Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra almadiçoada
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado
Eu deixarei...tu irás e encostarás a tua face em outra face
Teus dedos enlaçarão em outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono despordenado
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tuz voz serenizada."


sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Últimos dias

Tem sido complicado escrever nestes últimos dias. Minhas palavras somem e as minhas tristezas permanecem enroladas de modo que toda vez que tento decodificar as coisas que ando sentindo, acabo com o papel em branco.

São tantos pesares que nem eu mesma sei direito como enumerá-los. E assim os dias vão passando e todo o silêncio se apodera de mim. Às vezes sinto-me como um cômodo vazio. Vou fazendo parte, a cada dia que passa, do pó acumulado ao chão e à escuridão devido as cortinas fechadas.

Não ando conseguindo mais pegar a essência dos meus pensamentos loucos e viajar com eles. Acordo por acordar, porque meu desejo mesmo é permanecer na cama enquanto eu tento me distrair com um livro. Não me surpreenderia hoje se algum dos meus amigos viesse e puxasse os meus pés para fora de casa.

A vida está com gosto de comida de ontem. Nada tem muita graça e não estou disposta a gastar minhas energias tentando achar um propósito para tudo isso.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Verdades

Olhei em resposta para aquelas perguntas que me eram esdrúxulas e beiravam o ridículo.
Você quer a verdade?
Claro.
Está bem, como quiser.
Disse-lhe todas as coisas que me incomodavam desde os primeiros dias.O fato de mandar em mim como se eu não tivesse opção de escolha e querer me transforar em um enfeite para sua estante de livros. Abri uma ferida e fi cutucando com a ponta afiada que aquelas palavras produziam.
De certa forma eu fiquei satisfeita em vê-lo vulnerável e fraco.Esperei que a situação estivesse triste-para ele- e finalmente leve-para mim- para o silêncio reinar. Agora estávamos quites, ambos machucados e sem defesas.
A dor que o seu rosto emitia atingiu-me e as lágrimas vieram. Odiava ter que fazer alguém sofrer daquela maneira e odiava-me por ter feito aquilo.
Eu só queria ouvir um pedido de desculpas. Eu também não era de todo errada em minha insignificância.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Mudanças

Como não fui viajar no carnaval e fiquei em casa em meio aos meus botões, sempre acabo tirando um tempinho para refletir. Acabei fazendo isso só agora, não estava muito disposta naquele clima de Ano Novo - onde todo mundo faz as promessas e veste a cor que deseja - por isso me dei o direito de colocar as coisas no lugar só agora.

Sempre fui aquele tipo de pessoa que sempre sonhou muito. Sou versátil e me adapto com um pouco de facilidade, mas meu maior problema sempre foi desfazer minhas raízes e começar algo novo. Eu acabo deixando pra lá os meus objetivos e fico a mercê de preocupações maiores. Nunca dei a atenção devida ao meu bem estar. Sempre fui uma menina boazinha que acostumei todos ao meu redor a sempre obedecer ao que eles falavam.

Pois bem. That time is over. Não sei as palavras certas para descrever isso, mas é basicamente isso: algumas mudanças estão por vir. Não agüento mais ver que tudo continua na mesma, e eu não quero mais viver de arrependimentos. Chega de conformismo.

Não quero mais passar um dia sequer me lamentando daquilo que podia ter sido e não foi. Faça as coisas acontecerem. Porque ficar esperando quando você mesmo pode fazer algo para mudar?

E digo mais: não mude pelos outros. Mude somente por você. É só assim que se encontra a verdadeira determinação de alcançar aquilo que tanto almejamos.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Ódios

Para quê lembrar?
Eu sou forte,não preciso
De suas lembranças intoxicadas
E se quiser teimar em vir
Venha,vejamos quem ganha

Pegue suas armas,prepare
Estratégias para eu cair morta ou
Aos teus pés,pedindo perdão
Mas não fuja de mim!

Eu te buscarei das profundezas
De sua covardia e desgraça
Para crucificar-te na minha parede
E ver seu sorriso desaparecer

Sou má e vingativa
Mas só dou o trabalho
Aqueles que merecem
Um espetáculo completo

Solte teus ódios para cima de mim
Eu os atingirei som indiferença
E enterrarei todos vivos
Assim como eu fiz com você.

sábado, 9 de fevereiro de 2013

O jantar




Consegui me vestir sem muito drama. Misturei o conforto com algo quentinho, já que o clima não me dava muitas opções. Não precisei ficar esperando quando ele logo apareceu e me conduziu até seu carro.
Perguntei-o onde estaríamos indo, mas ele recusou-se a dizer, então apenas aproveitei a paisagem. As árvores sabiam como ficar assustadoras quando não havia luz alguma. Ainda bem que ainda não era inverno, senão não iria sair na rua sozinha à noite nem morta.
De repente ele parou o carro e disse que tínhamos chegado. Estávamos na frente de um chalé de madeira, as cortinas estavam abertas e pude ver que dentro havia uma lareira acesa. Atravessamos o portãozinho e o jardim e antes de abrir a porta ele me disse que essa era outra casa dele, que era mais usada como escritório. Eu assenti com a cabeça e entramos.
Era tudo muito aconchegante. Havia uma mesinha na sala, com duas almofadas servindo de assento e só faltava os pratos serem servidos. O cheiro estava ótimo. Fui timidamente para a cozinha e elogiei, eu nunca seria capaz de cozinhar tão bem quanto ele.
Voltei para a sala e comecei a espiar as prateleiras. De fato, só havia livros e códigos sobre advocacia. Os discos me atraiam mais. Beatles, Rolling Stones e musica erudita. Levei um susto quando ele sussurrou no meu ouvido que o jantar estava pronto.
Comemos e entre uma ou outra taça de vinho ele foi me embalando em uma conversa animada sobre situações inusitadas e coisas engraçadas que ele passara na faculdade. Me diga o verdadeiro propósito de você ter vindo pra cá, ele me disse. Encolhi os ombros e expliquei que precisava realmente de um descanso e que me lembrara que ele ainda morava ali,então resolvi passar alguns dias naquela pequena cidade.
Você veio em um boa hora, ele fechou sua mão na minha e me ofereceu outra taça de vinho.
Os olhos dele me pareceram profundamente vazios. Sua expressão era cálida, translúcida de tristeza que o corroia por dentro de tal maneira que não sobravam reações, mas apenas a escuridão refletida em suas rugas.
Peguei sua mão e tentei dizer algumas palavras que pudessem reconfortar aquele coração quase ausente. Não havia o que ser dito. As palavras eram completamente inúteis, então deixei que o silêncio preenchesse os significados e explicações que eu não fui capaz de dizer.
Por fim, o tempo passou rápido. Não me importava se tinha se passado horas ou minutos. Reclinei-me e consegui enxergar uma semente de esperança ser plantada naquele olhar.
A pequenina mudança foi apenas pioneira de um tempo que estava por vir, cheia de novos ares e horizontes.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Trechos

"Saí, afastando-me do grupo, e fingindo ler os epitáfios. E, aliás, gosto dos epitáfios, eles são, entre a gente civilizada, uma expressão daquele pio e secreto egoísmo que induz o homem a arrancar a morte um farrapo ao menos da sombra que passou. Daí vem, talvez, a tristeza inconsolável dos que sabem os seus mortos na vala comum; parece-lhe que a podridão anônima os alcança a eles mesmos."

                                                                                                                         Machado de Assis

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013



Acordei com o barulho da rua. As motos passavam a todo instante, fazendo um pandemônio, ferindo meus ouvidos e aumentando minha dor de cabeça.
As cortinas estavam fechadas e o quarto em total desordem. O que teria acontecido ali? Eu não sabia dizer. E também não sabia dizer porque tudo me assustava, cada objeto que me encarava fixamente por minutos que pareciam anos.
Decidi por fim tomar um banho quente. A água aos poucos foi clareando a memória que antes recusava-se a lembrar dos abraços e beijos que geraram os gritos e sussurros silenciosos que atravessaram a noite. Cada gota vinha como um flash, rápido e impreciso, a resgatar todas as sensações afogadas pelas inúmeras horas de sono.
A dor logo venceu-me e foi se espalhando pelo meu corpo, destruindo qualquer relutância de sofrer que me restava. O sol que entrava pela vidraça foi sumindo...eu já não via as paredes nem a água ao meu redor.

domingo, 3 de fevereiro de 2013



Não havia muito que falar e eu estava profundamente tímida com a situação. Era constrangedor, as palavras sumiam e tudo que eu podia fazer era olhar em seus olhos e dar um leve sorriso, procurando me desculpar ao meu tempo mostrar que estava feliz em encontrá-lo.
Acho que ele entendeu, porque sorriu de volta e me conduziu até o carro. Pelas minhas contas era outono, as pessoas caminhavam com camisetas leves e jeans, mas eu estava com frio. Todos olhavam minha jaqueta com incredulidade, como se eu fosse doente, mas na minha concepção o vento já era considerado de inverno. Vi que isso o divertia, então permiti que ele risse de mim a vontade, eu só não queria passar frio.
Pegamos um táxi e os lugares foram sendo-me apresentados. Parecia-me uma cidade pacata, e eu não conseguia me decidir que gostava ou não daquilo. Mas tinha que admitir que era um lugar muito bonito.
Venha, é aqui,ele disse enquanto abria a porta para mim. Desci do carro e olhei para o prédio que se estendia a minha frente e acima de mim. Nada mal. Havia uma grande praça uma quadra a frente, onde as enormes árvores com folhas amarelas davam um encantamento especial ao bairro.
Fomos ao meu hotel a pé, que ficava apenas a três quadras dali. Ele tagarelava sobre os estabelecimentos que estavam ali perto, caso eu precisasse de algum com urgência. Ele me dava olhares rápidos e tentava fazer com que eu me sentisse a vontade. Felizmente eu já estava melhor e pude responder decentemente que tinha entendido as instruções.
Assim que peguei minha chave com a recepcionista, agradeci a ele por todo o trabalho e transtorno que tinha causado. As desculpas serão aceitas se você vier jantar comigo hoje a noite. Venho te buscar as sete.
Fiquei parada, sem saber o que responder. Ele deu novamente aquele sorriso de divertimento e saiu. Tentei processar a informação enquanto subia as escadas e abria a porta do quarto. Olhei no relógio. Quatro e meia. Eu ainda tinha tempo.

sábado, 2 de fevereiro de 2013



Eu buscava refúgio em seus olhos,a mínima luz que aqueles faróis podiam me ceder,e ele era o mar que me chamava com um canto melodioso e doce,igual as vozes das sereias que seduzem os marinheiros e depois os levam para o fundo dos mares.
Qualquer e toda coisa que ocorria entre nós era um código,e passavam-se horas tentando decifrar o que faríamos. Estas e mais outras contradições exerciam um profundo fascínio sobre mim e mais ainda quando a neutralidade fazia-nos mais inseparáveis.
Não era algo real,de carne e osso,mas duas consciências e partes diferentes de sentimentos que por ora se encontravam em plena liberdade.
Gritos e sussurros,paz e guerra e tantos outros segredos que transportavam nossas opiniões revolucionárias e loucas. O igual desejo em ser feliz,viajar léguas num piscar de olhos e tantas outras coisas...
Aos poucos,éramos quase um.Juntos nos mesmos sonhos adolescentes de mudar e encontrar o amor e felicidade na próxima quadra a direita. Onde se passa?
Em lugar algum,apenas em inspirações concretizadas através de frases onde o sentido não encontra moradia. Apenas ilusões.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Não há nada que eu queira mais
Do que correr pelos campos
De nosso mundo secreto

Contando coisas rotineiras
Rindo dos problemas
Deixando que a vida se vá
Mas não em vão

Deixe que a música nos leve
Mais distante, mais fundo
Em nossos sonhos e devaneios

Para que tudo seja esquecido
E que nunca mais
Voltemos a sofrer.