domingo, 12 de agosto de 2018
Eu acordo no mesmo horário e vou tomar meu banho. Deixo a água cair sobre mim, como uma tempestade, na inútil tentativa de abafar meus pensamentos. Penso em deixar a água o mais quente possível, quem sabe ela não queima a minha pele e possa assim nascer uma nova carcaça. Eu sorrio. Que bobagem, mas bem que poderia ser verdade.
Olho no espelho. Ignoro o reflexo e reúno meus pincéis. Ninguém precisa saber do meu sofrimento e ninguém vai saber, nem que eu precise desenhar um sorriso nesse rosto.
Primeiro, começo pela pele. Hidratante, primer e base. Sobrancelhas marcadas. Agora, sombra marrom clara no côncavo e muito rímel. Finalizo com um batom rosa, bem menininha. Olho novamente no espelho. Há alguém ali e não sou eu, talvez seja Nina. Ela sorri para mim, com compaixão no olhar. Eu sorrio de volta, mas desmorono ao fazer e deixo duas lágrimas caírem.
A quem eu quero enganar?
Talvez a todos, diz Nina.
Sim, eu respondo. E principalmente à mim mesma.
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